Trabalhos aprovados GT04

GT04: Antropologia e Cinema participativo

Fazer dialogar pesquisas antropológicas nas quais o cinema participativo apresente-se como tema central, permitindo comparar abordagens e refletir sobre metodologias de pesquisa.

Coordenadores:
Renato  Sztutman (USP) e Evelyn Schuller (UFSC)
e-mails: sz.renato@gmail.com; evelynsz@gmail.com

Trabalhos aprovados

A criação do coletivo Cinta Larga de cinema e as possibilidades do cinema participativo para a antropologia

Nadja Marin
(Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social USP)

A partir da experiência em oficinas de vídeo e de criação de um coletivo de audiovisual na Terra Indígena Roosevelt, localizada na divisa dos estados de Rondônia e Mato Grosso, e uma área de inúmeros conflitos relacionados ao garimpo de diamantes e atividades madeireiras, apresentarei as possibilidades que o cinema indígena oferece para a metodologia do trabalho antropológico em áreas de conflito. Essas possibilidades dizem respeito à intensificação das relações em campo e da comunicação e acesso ao imaginário mobilizado na construção de obras audiovisuais. O processo de formação do coletivo de cinema criado a partir de uma demanda local, é  tomado então na pesquisa não como uma simples troca de conhecimentos no campo, muitas vezes demandado pelos nativos como condição para a realização da pesquisa, mas sim como um campo específico que permite estudar as memórias incorporadas, performances, representações, projeções, desejos, relações sociais e muitos outros temas no qual a metodologia de criação de filmes tem se mostrado certamente prolífica.


Evento-encontro, filme-ritual: experiências audiovisuais e realizações cine-xamânicas entre os Maxakali

Ana Carolina Estrela da Costa
(Bacharel em Música e Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Antropologia UFMG)

Projetos dedicados especialmente à gravação, transcrição e tradução de cantos e histórias tem-se realizado desde 2003 entre UFMG e índios Maxakali. Cada vez mais, no entanto, suas propostas envolvem a realização de oficinas de formação audiovisual: o cinema parece próprio para a experiência de eventos-encontros que se produzem nas aldeias, e para o estabelecimento de novas alianças e trocas de saberes fora delas. Assim, quem conduz os cursos de fotografia e vídeo acabam sendo os pajés, especialistas nos yãmĩyxop, seres-cantores-evento que serão filmados. Eles dominam o ver-menos daquela política cósmica, do sensível que filmadores e cantores partilharão no evento-filme-ritual. O cacique também intervém nas oficinas, dirige as câmeras, media imagem-evento-cinema, e, junto com pajés, cantoras, tecelãs e chefs de cozinha-ritual, define quem sabe e quem não sabe olhar. Oficinas-rituais, filmes-encontro, políticas do olhar e da escuta, visões afetadas por trocas cósmicas: como pensar essas criações etnográficas por meio do cinema?


As Hipermulheres: cinema e ritual entre os Kuikuro do Alto Xingu

Bernard Belisário
(Mestre, UFMG)

Desde 1998, quando o projeto Vídeo nas Aldeias incorporava as oficinas de realização na sua metodologia de trabalho, temos visto surgir em festivais de cinema nacionais e internacionais filmes que dão a ver o mundo indígena de uma maneira completamente nova, mais permeável ao pensamento e às relações que o constituem. Boa parte dos filmes deste "cinema indígena" se dedica a filmar a preparação e execução de seus rituais. Como é então que as forças que mobilizam os corpos nestes rituais (com seus cantos, danças e coreografias) deixam suas marcas na forma dos filmes?  Nossa pesquisa busca analisar na mise-en-scène documentária dos filmes-rituais as marcas desta mútua afecção entre cinema e o mundo ameríndio. Para esta apresentação, propomos uma análise comparativa entre três cenas de performances ritualísticas do filme As Hipermulheres (2011), de Takumã Kuikuro, Carlos Fausto e Leonardo Sette.


Mito, xamanismo e ficção em narrativas fílmicas ameríndias

Alice Villela
(Doutoranda em Antropologia Social  PPGAS/ USP)

Dentre a crescente produção audiovisual em contextos indígenas no Brasil, destaca-se um interesse recente de um certo número de filmes em "traduzir" ou "recriar" narrativas míticas e experiências xamânicas por meio de diferentes elementos ficcionais, tais como: encenação, animação e manipulação de imagens. Esta comunicação visa abordar dois filmes recém produzidos a partir de processos colaborativos entre antropólogos, cineastas e indígenas - Porcos Raivosos realizado entre os Kuikuro (2012) e Xapiri entre os Yanomami (2012), como forma de explorar questões relativas à confrontação entre diferentes noções de imagem e aos limites da produção audiovisual colaborativa na construção do diálogo transcultural.


Percepções sobre a prática do skate a partir da produção compartilhada de imagens

Julio Cesar Stabelini (Mestrando em Antropologia Social, UFSC)

Este trabalho faz parte de uma pesquisa de mestrado em andamento cujo objetivo é levantar elementos que destaquem certas especificidades no tocante às formas de sociabilidade características dos praticantes do skate e sua inserção na paisagem urbana. A etnografia que estou realizando tem como ponto de partida uma pista de skate localizada no bairro Costeira do Pirajubaé, em Florianópolis, Santa Catarina, mas se desdobra para outros locais e espaços, através dos quais acompanho, pela via da observação participante, os circuitos percorridos pelo grupo em questão que envolvem, por exemplo, pistas em outros bairros. A intenção é pensar o skate enquanto uma prática que depende dos equipamentos urbanos, mas que também “cria” espaços para se efetivar, impondo formas específicas de ocupação do espaço, baseadas numa percepção do mesmo também ela específica. E um dos instrumentos para coleta de dados que venho utilizando na pesquisa é a produção de imagens através de um processo participativo. Este trabalho tem a intenção de descrever esse processo de construção de imagens e explorar os rendimentos disso a partir do caso específico de minha pesquisa.