Trabalhos aprovados GT05

GT05: Antropologia e Análise Fílmica

Reunir pesquisas que têm como objeto o filme de ficção ou documentário, abrangendo também trabalhos que envolvam metodologias utilizadas no estudo do cinema na antropologia.

Coordenadores:
Debora Breder (GRAPPA/UFRRJ) e Kelen Pessuto (USP)
e-mails:  deborabreder@hotmail.com; kelenpessuto@gmail.com 



Trabalhos aprovados

Favela, substantivo feminino: gênero e documentário

Eliska Altmann (Professora adjunta da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)
Marco Antonio Gonçalves (Doutor em Antropologia Social – Museu Nacional/UFRJ e professor da UFRJ)

Sete mulheres, seus cotidianos, uma favela. O presente trabalho pretende analisar o documentário “Das nuvens pra baixo”, por nós realizado, pela perspectiva de gênero. Inspirado na escritora, catadora de papel, mulher, negra e favelada, Carolina Maria de Jesus, o filme cria uma ponte espaço-temporal em busca de continuidades e descontinuidades de temas-chave registrados em seus diários, como fome, maternidade, sonhos, favela. Ainda nos anos de 1960, uma nova experiência de cotidianidade foi imaginada e descrita pela autora, que desconstruiu o “sexo frágil”, admirou o trabalho e a poesia. Pode-se dizer que Carolina é uma questionadora genuína da condição feminina construída na modernidade. Cinquenta anos depois, Geandra, Iracy, Edilma, Maria da Paz, Vanessa e Genalda, na condição de trabalhadoras, provedoras, mães, sonhadoras e poetas refletem sobre suas vidas e seus cotidianos. Elas formam uma outra representação de favela – diametralmente oposta àquela (de clichês) do cinema brasileiro contemporâneo composta pela violência e pela virilidade masculina. 


Pensar a modernidade com imagens: Barcelona entre Vicky, Cristina, Barcelona e Biutiful

Paulo Jorge Ribeiro (Doutor em Ciências Sociais – PPCIS/UERJ - Professor do Departamento de Ciências Sociais da UERJ)

O cinema contemporâneo faz parte dos espaços e circulações de sentido sobre como e onde as experiências da modernidade são expressas – desejos e fracassos, expectativas e tragédias, afetividades e mercados se insinuando em zonas de disputas de poder interpretativo. Nesse campo, uma cidade é paradigmática – Barcelona – por expressar um continuum entre tradição e modernidade, onde as apostas do universo de mercado triunfante parecem construir o imaginário da “cidade-empresa” bem-sucedida, sublimemente cosmopolita, um cartão postal vertiginoso de uma modernidade problemática e, muitas vezes, entrópica.
Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen (2008) e Biutiful, de A. G. Iñarritu (2010), disputam essas fabulações. Da distopia ordinária de Iñarritu  às vivências descentradas da vida cotidiana de Allen, é possível conceber duas leituras não somente de uma cidade central da Europa, mas de presentes e amnésias da modernidade.
O intuito deste ensaio é perceber os horizontes de experiências – dos indivíduos e da própria cidade -- apresentados nesses dois filmes paradigmáticos da Barcelona hodierna. A Barcelona de Iñarritu, de párias e ofendidos, trabalho marginal e finitude, se contrapondo às estampas catalãs virtuosas mescladas com as impossibilidades do amor neurótico alleneano. Em ambos, violência e angústia de projetos sem centros imanentes ou fundamentos transcendentes, mas que assumem fabulações narrativas singulares de onde e para quem falam. Para esta proposta, concebe-se Barcelona não como uma cidade-ideal ou real, mas como um campo de forças imagético central às disputas estéticas e políticas do mundo contemporâneo. 


Um cinema de detalhes: materialidade e percepção na Trilogia de Kieślowski

Bruna Nunes da Costa Triana (Mestre em Antropologia, PPGAS/FFLCH/USP)

A partir da Trilogia das Cores (1992-1994), do diretor Krzysztof Kieślowski, este trabalho analisa o dispositivo cinematográfico e as dimensões temáticas que tangenciam os filmes. Nessa medida, a sensibilização mimética e a problematização dos sentidos, bem como as formas de intensificar a linguagem fílmica, serão vias percorridas por este trabalho. Cores, sons e sentidos estão imbricados na narrativa cinematográfica e, de maneira pujante, na Trilogia. Queremos articular, por meio da análise fílmica, a obra com determinadas discussões antropológicas e aprofundar as interpretações acerca dos filmes nas questões sensoriais e nas formas de envolver e trabalhar a linguagem cinematográfica com o intuito de provocar e transmitir uma experiência ao/no espectador. Assim, este trabalho, volta seu olhar, sobretudo, para os cruzamentos e as relações entre a análise cinematográfica e o pensamento antropológico, a fim de pensar a mediação do cinema, suas formas e potências, a partir das noções de mimesis e narração. A construção visual e sonora dos filmes é fundamental aqui, de modo que procuramos pensar os filmes como experiência do olhar e do corpo, do espectador e das personagens. Serão mobilizados teóricos como Lévi-Strauss, Howes, Benjamin e Taussig.


Cinema de horror e sociedade: found footage e medos modernos 

Maria José Genuino Barros (Mestranda de Ciências Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

O horror se estabeleceu como o gênero cinematográfico mais estudado academicamente. A literatura específica tem por hábito fazer associações reflexivas entre os filmes e os medos de uma determinada sociedade. O presente artigo pretende realizar um breve estudo antropológico sobre o cinema de horror como representação, não mera reflexão, dos medos sociais, tendo como recorte teórico seu mais novo subgênero – o found footage, que ficou conhecido através de filmes como A bruxa de Blair e Atividade paranormal. A estética documental e o uso das novas mídias e tecnologias como o YouTube fazem do novo subgênero um representante das novas formas de subjetividade e, consequentemente, das ansiedades e medos oriundos das mesmas. Para tal, nos utilizaremos dos estudos sobre medo empreendidos pela Antropologia das emoções.


Utopia. Distopia e realismo no cinema de Flora Gomes 

Denise Ferreira da Costa Cruz (Doutoranda na Universidade de Brasília. Programa de Pós graduação em Antropologia Social)

O presente trabalho é uma reflexão sobre o conteúdo utópico, distópico e realista presente na filmografia do cineasta guineense Flora Gomes. O cinema de Flora Gomes inicia seu caminho com filmes documentários que retratam a história de seu país. A título de exemplo poderia mencionar os filmes O Regresso de Cabral (1976), A Reconstrução (1977) e Anos de Oça Luta (1978). Sua formação inicial veio, assim, inspirada pela influência do estilo documentário e orientada pela vontade de trabalhar com o cinema para a construção de outras imagens de Africa e sua cultura. Mais tarde, o cineasta produziu filmes ficcionais como Mortu Nega (1987), Os Olhos Azuis de Yonta (1992) e Nha Fala (2002). O cineasta apresenta na maioria dos seus filmes narrativas baseadas em fatos reais revelando um campo de produção interessante para o debate sobre ficção e realidade. Menos do que pensar qual fase do seu trabalho apresenta um repertório mais honesto à realidade penso ser importante problematizar a distinção entre ficção e realidade presente em seus filmes. Tal conteúdo rompe com a polaridade ficção versus realidade apontando possibilidades de pensar ambos conceitos de maneira relacional e indissociáveis. O meu trabalho é uma reflexão sobre esses conceitos no cinema de Flora Gomes. O intuito da presente reflexão é pensar como a análise fílmica pode se relacionar à reflexões antropológicas sobre cinema, ficção e realidade e utopia.


Cinema Africano e sua proposta revolucionária
 
Lisabete Coradini (Docente, UFRN, CCHLA)

A partir de leituras de autores como Fanon (1975), Said (2002), Stam (2006) e Shohat (2002), pretendo estabelecer algumas notas sobre a possibilidade de reflexão entre o cinema africano e as teorias da imagem. Atualmente os filmes africanos sinalizam diferentes pontos de vista sobre temas globais como os movimentos de descolonização, a utopia da independência, a migração, as guerras e as políticas de identidades. Esses filmes revelam relações e encontros entre mundos, culturas e sujeitos, e não mais somente sobre uma ''dada cultura''. Desloca-se e descoloniza-se o ''olhar'' sobre o outro. O novo cinema africano traz novos posicionamentos críticos e novas linguagens cinematográficas.